ÉVORA MINHA CIDADE

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

RECORDAÇÕES

 

 

INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
CENTRO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ÉVORA


Centro Novas Oportunidades
Do Centro de Formão Profissional de Évora


Espaço para alguma história que queira recordar.



Lembro-me que:

Paradoxo dos paradoxos! Lembro-me que, quando era menina de tenra idade – três/quatro anos, me ter sentido, quase em simultâneo, a mais infeliz e também a mais feliz das crianças nascida numa recôndita aldeia do Alentejo.

Passo a explicar:

Ainda menina de colo, foi-me diagnosticado um Glaucoma Congénito que haveria de me levar, depois de vários anos de sofrimentos horríveis, a uma cegueira completa, não obstante se ter tentado tudo o que de melhor havia a nível de medicina e clínicas especializadas. O destino estava traçado… Nada havia a fazer!

Conformada? Como pode uma criança de tão tenra idade ficar conformada, não sabendo o que tal palavra significa e não tendo sequer a noção do que acabava de lhe acontecer?

Resignada? Não… E porquê?

Aqui começa, quanto a mim, uma das metamorfoses mais fantásticas que me aconteceram e que, mais uma vez, passo a explicar:

Neta de pessoas de algumas posses – meu avô era o Presidente da Junta de Freguesia da nossa aldeia – mas era, sobretudo, uma pessoa de elevado e nobre carácter moral tomando, muito cedo a seu cargo, juntamente com meus tios e pais, a moldagem da personalidade que ainda hoje, felizmente, norteiam a minha vida.

Assim, com muito amor mimo e muito, muito carinho, nortearam a minha vida no sentido de, ao invés de ser a menina que necessitava de ajuda era, pelo contrário, a menina que a todos socorria, especialmente aos filhos das pessoas mais pobres granjeando, como se deve compreender, as mais belas atitudes de reconhecimento e de quase idolatria. Sentia-me bem neste papel, sentia-me realizada com as pequenas ajudas que proporcionava aos meus conterrâneos que me apelidavam de “A nossa Menina”.

Haverá coisa mais bela e mais reconfortante para um carácter em formação?

Do que acabo de descrever gostaria agora de vos dar alguns testemunhos em forma de uma ou duas histórias que, segundo julgo, ilustrarão com singeleza mas muita verdade tudo o que para trás deixo dito.
a) – O episódio que vou contar é um, entre muitos que me acontecerem, seria impossível contá-los todos. Resolvi, por isso escolher dois que jamais irei esquecer.


A Igreja da N.ª S.ª da Graça do Divôr e os anjinhos que acompanharam a procissão, entre os quais eu fazia parte.

b) Tinha eu cinco anos quando N.ª S.ª de Fátima andou em peregrinação pelo país. A minha aldeia foi uma das contempladas. Depois de decorada com muitas luzes e flores como se podia fazer na época, também foi organizada uma linda procissão. Durante todo o percurso da mencionada procissão todos pediam à Santa que me abençoasse toda a vida.

O andor foi transportado pelo meu pai e tios paternos com a intenção de pedir a N.ª S.ª o milagre, pois era a esperança que lhes restava, uma vez que mais nada havia a fazer no campo da ciência.
Durante a semana seguinte a imagem permaneceu na Igreja da aldeia, sendo eu lá levada todos os dias por familiares e amigos: Pegavam-me ao colo para beijar a imagem e mandavam-me repetir “N.ª S.ª cuida de mim toda a minha vida”.

O milagre não se deu! No entanto deu-me força para saber compreender da mesma forma o Bem e o Mal.
Este episódio marcou-me profundamente para o resto da minha vida.

c) - Continuando as minhas lembranças, quase todas passadas em casa de meus avós paternos, os meus dias eram divididos entre brincadeiras, passeios pelo campo, acompanhada pelas minhas amiguinhas da minha idade e pelo meu inseparável amigo de quatro patas que nunca me deixava mal e livrava-me de todos os perigos. Íamos apanhar flores para fazer colares para pôr no cabelo. Como eu ficava feliz quando me diziam que as minhas flores eram bonitas e combinavam com os meus vestidos enfeitados de folhos ou bordados!

Também fazia longos e belos passeios com os meus tios, não dispensando nunca o meu “Pangalhadas”, o meu amiguinho cão que me deixou lembranças que nunca irei esquecer.

Lembro-me dos serões de Inverno quando, à lareira, sentada ao colo do meu avô, ele me contava historias e cantava comigo as cantigas da época. Como eu me lembro das merendas com as minhas amigas que a minha avó tão bem preparava. Sempre me senti bem a partilhar tudo o que tinha com os menos favorecidos. Em suma, gostava de tudo o que tinha e do que era. Fui até aos meus doze anos uma menina feliz, embora com muitos problemas de saúde, mas nunca me faltaram os cuidados necessários e que a época permitia.

Esse período da minha vida de que tenho tanta saudade me deixou e me ensinou a receber mas, também, aprendi a dar. Hoje aos 56 anos aceito a vida e aquilo que sou. Tenho as mesmas amizades e conquistei muitas mais e é com elas que recordo os nossos bons tempos

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